sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções.
'Eu me olho no espelho e não me enxergo, não sou mais a mesma, perdi a identidade. Tirar suas fotos de vista me pareceu uma providência curativa, agora você não o verá mais, querida, vai esquecê-lo mais rápido, como somos inocentes. E eu lá quero esquecê-lo? Sua presença ainda está tão quente dentro desse apartamento, o colchão ainda está meio afundado do lado em que você dormia.'
Martha Medeiros - Fora de mim.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde.Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina.
Caio Fernando Abreu
Essas suas delicadezas em detalhes dormem e acordam comigo. Acariciam e perfuram meu peito vinte e quatro horas por dia. Uma saudade dos mil anos que passamos, ou das três semanas. A loucura de gostar tanto pra tão pouco ou simplesmente a loucura de tanto acabar assim. Fora tudo o que guardei de você, me restou a consideração que você guardou por mim. Sua mão estendida. Sua lamentação pela vida como ela é. Sua gentileza disfarçada de vergonha por não gostar mais de mim. A maneira que você tem de pedir perdão por ser mais um cara que parte assim que rouba um coração. Você é o mocinho que se desculpa pelo próprio bandido. Finjo que aceito suas considerações mas é apenas pra ter novamente o segundo. Como o segundo do meu nariz na sua nuca quando consigo, por um segundo, te abraçar sem dor. O segundo da sua voz do outro lado como se fosse possível começar tudo de novo e eu charmosa e você me fazendo rir e tudo o que poderia ser. O segundo em que suspiro e digo alô e sinto o cheiro da sua sala. Então aceito a sua enorme consideração pequena, responsável, curta, cortante. Aceito você de longe. Aceito suas costas indo. Aceito o último boné virando a esquina. Não é que aceito. Quem gosta assim não come migalhas porque é melhor do que nada, come porque as migalhas já constituem o nó que ficou na garganta. Seus pedaços estão colados na gosma entalada de tudo o que acabou em todas as instâncias menos nos meus suspiros. Não se digere amor, não se cospe amor, amor é o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor. Aceito sua consideração de carinho no topo da minha cabeça, seu dedilhar de dedos nos meus ombros, seu tchauzinho do bem partindo para algo que não me leva junto e nunca mais levará, seu beijinho profundo de perdão pela falta de profundidade. Aceito apenas porque toda a lama, toda a raiva, todo o nojo e toda a indignação se calam para ver você passar. 
Tati Bernardi
E você está a um passo do endeusamento: “ele é único”, aí fodeu. Se ele é único, ele é a sua única chance de ser feliz. E, se ele não quer nada com você, você acaba de perder a sua única chance de ser feliz. Bem-vinda à depressão. Como você é ridícula, amor platônico é para adolescentes. Lá fora há milhares de possibilidades de felicidade, de felicidades possíveis. De realidade. E você eternamente trancada na porta que o mundo fechou na sua cara. Fazendo questão de questionar e atentar o inexistente. Vá viver um grande amor. Olha, faça um favor para mim, antes de tremer as pernas pelo inconquistável e apagar as luzes do mundo por um único brilho falso, olhe dentro de você e pergunte: estupidez, masoquismo ou medo de viver de verdade?
Precisa casar comigo não, precisa me engravidar não. Basta me olhar assim, basta morrer de rir comigo. Basta me ler, me decifrar, ser intenso nesse minuto. Vamos todos morrer meus amores, vamos então morrer sabendo que demos vida a alguém.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

E no meio da noite, quando eu decido que estou ótima afinal de contas tenho uma vida incrível e nem amava mesmo você, eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a amar você de um jeito que, infelizmente, não se parece em nada com pouco amor e não se parece em nada com algo prestes a acabar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um dia você encontra uma voz doce que te acalma, alguém que sorri pra você e te abraça sem ao menos se mover, encontra um olhar terno que te faz derreter só de olhar, encontra palavras que sempre quis escutar, que sempre disse, mas não costumavam dizer pra você. Quando isso acontecer , agarre, cuide .. porque você acabou de encontrar seu mais lindo esconderijo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Olha, eu realmente não tenho tempo pra essas coisas, se você não tem mais nada pra me dizer, tô desligando. 
-Eu tenho. Tenho um milhão de medos presos aqui nessa linha. Se você desligar, sua vida vai seguir. A minha vai ficar contida nesse aparelho eletrônico. Eu já sou contida de tantas maneiras... Na verdade eu só queria te dizer que por mais que o tempo passe, não consigo preencher meus buracos. Eu olho em volta e não procuro nada. Só porque eu sei que não há nada. Só porque eu sei que o nada que eu quero tá longe de mim. É tudo um enorme, frio e presente nada. Um vazio do tamanho da minha quase existência. Eu quase existo, sabia? Afinal, quem existe por inteiro? Eu não. Eu sou metade amada (porque ninguém me assume por inteiro); metade interessante (porque assusto quem eu quero aproximar e frustro os que ignoram minha muralha); metade culpada (porque ninguém tem obrigação de me amar de verdade quando eu crio bloqueios tristes e vazios). Se você quiser desligar, tudo bem. Eu só tava fazendo drama. Claro que eu vou sobreviver, né? Nunca precisei de uma ligação pra me manter inteira. Mas me diz, e você, tá bem? 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tudo porque mulher é assim mesmo, não quer saber de nenhum tipo de consolação. Ai de quem lhe oferecer carinho depois de já ter se declarado apaixonada. Fale em carinho para sua ex e cometa o pior dos insultos. Se não sente mais amor por ela, então sinta raiva, ódio, qualquer coisa que a faça sentir o gostinho de ainda perturbá-lo, só não venha com essa conversa de samaritano. Se não sente mais paixão, então suma e dê a ela o beneficio da dúvida: será que ele sente saudade, será que ele ainda pensa em mim? Dizer que sente carinho e colocar uma pá de cal no passado. É como dizer que ela hoje tem a mesma importância que o hamster da vizinha. Que lembra tanto dela quanto se lembra de um moleque que estagiou no escritório oito anos atrás. Que o carinho que sente por ela e mais ou menos como o carinho que sente por um blusão que ganhou no seu aniversario de 16 anos. Seja homem, mas não venha dizer que sente carinho depois de todos aqueles amassos e juras de amor. Não seja tão cruel sendo tão bom moço.

Martha Medeiros.
Estão todos olhando a moça passar. Falam de seu corpo, comentam seu mistério, disputam sua atenção. Mas se a moça olha, mudam de assunto, se a moça pede ajuda, ninguém escuta e se quiser companhia - coitada da moça! - vai continuar só. É assunto na academia, atrai olhares no trabalho e quando sai de noite também. Mas ela dorme sozinha e tem um vazio no peito que ninguém tem vontade de ocupar. A Menina tem um coração pesado que ninguém quer carregar.
Estou ficando morna de tanto não me permitir ir além, de tanto calcular meus passos, me esconder em falsa timidez, evitar sentimentos, evitar relacionamentos, evitar gente só por ser gente e pela possibilidade de alguma coisa dar errado. Posso correr o risco de dar certo?
Pode iludir suas meninas com poucas palavras. Pode ser o melhor da vida delas e não querer nada sério. Faz elas acreditarem que você vai mudar, que você vai deixar de querer todas e nenhuma. Promete pra cada uma delas que vai beber menos e abraçar mais. Mas vem me contar depois. Deixa eu te explicar que elas sofrem por serem mulheres e que um dia você vai achar uma que não seja tão superficial. Deixa eu te jogar mil indiretas enquanto te aconselho sobre as outras. Enquanto isso, eu sou a que não é tão superficial, mas mora longe demais pra mudar sua vida. Enquanto isso eu te espero porque sei que você vai chegar. Eu nunca pedi mais que isso, na verdade eu nunca pedi nada. Eu só me fiz presente e fiz falta pra deixar você existir melhor em mim que qualquer um.
Fica mais um pouco e me deixa fazer parte da sua história. Quero o seu dia-a-dia na minha rotina e seu colo pra dormir. Quero nossos assuntos em pauta e nossa falta fazendo companhia. Eu quero mais que solidão a dois e inseguranças tristes para preencher cotidiano. Mais que sorrisos inconvicentes e quase amizades convenientes. Eu quero menos. Menos pensamento, menos dúvida. Um equilíbrio e você de brinde
Estou sempre de partida, malas feitas, portas trancadas, chave em punho. No fundo eu quero dizer "Me impede de ir. Fica parado na minha frente e fala que eu tenho lugar por aqui, que não preciso abandonar tudo cada vez que a solidão me derruba. Me ajuda a levar a vida menos a sério, porque é só vida, afinal." E acabo calada, porque não faz sentido dizer tudo isso sem ter pra quem.
Verônica H.
Então ele me disse: Respira assim. Vem. Mas eu não sei. Mas eu tô aqui. Olhe meus olhos tão arregalados, como posso guardar mentira aqui? Eu posso cantar pra você, eu posso te segurar, eu posso ficar aqui até você conseguir. Eu não sei. Tá perto. Vai. Solta da borda. Eu sei, você já foi parar no fundo. Mas agora é diferente. Tá mais raso. E eu tô aqui. Eu vim do outro lado do oceano. Eu vim só por sua causa. Vem, larga da borda. Pode vir. Eu vi você como você é e é por isso que estou aqui. Confia.
Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando. No começo eu esperava, que viesse alguém, um dia. Um avião, um navio, uma nave espacial. Não veio nada, não veio ninguém.
Caio Fernando Abreu

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas me sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora. Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura?

Caio Fernando Abreu
 De vez em quando é necessário a gente se perguntar se dentro de nós é um bom lugar para se viver. Tenho me perguntado isso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Evito olhar os casais de namorados nas paradas de ônibus, e tem um painel publicitário em que um homem olha para uma loira com um desejo tão escancarado que me retorço e choro só de imaginar você olhando assim para outra mulher, e eu sei que você está, ninguém precisa me contar, eu sei como é que você se cura, se trata, você não chora nem lamenta, você volta pra rua, você vai atrás de todas as mulheres nuas feito um vira-lata, você está olhando nesse instante para outra mulher, está entrando nela, dizendo a ela como ela é gostosa, você está me matando dentro de você, e eu morro a quilômetros de distância, a sós comigo mesma, você transa com outra e me mata, você goza e me mata mais um pouco, você dorme e me deixa insone pra sempre, eu sei que não vai ser pra sempre, mas eu não enxergo o dia de amanhã, hoje eu só estou acordada pro eterno desse pesadelo, você era meu, droga, exclusivamente meu até dias atrás, meu como esse sofrimento.
Fora de mim - Martha Medeiros.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Era mentira. Eu sempre faltava com a verdade quando o assunto era você e vivia a eterna ilusão de achar que eu não te amava mais, quando na verdade lá no fundo uma parte de mim sabia que você era o amor da minha vida. Eu percebia isso quando ouvia alguém dizer teu nome e logo me vinha sua imagem na cabeça, quando ouvia as músicas de amor e lembrava da banda que nos marcou, quando fechava os olhos e me deparava com o filme da nossa história de paixão, quando sentia alguém com o mesmo cheiro de perfume que você usava, quando sentava no sofá da minha sala e você não estava lá para eu me esparramar em seus braços e sentir você passando a mão em meus cabelos, quando ia para o cinema e via aqueles milhares de casais apaixonados que só se beijavam o filme inteiro. Eu era uma mentirosa mesmo. Tentava enganar até a mim mesma, mas isso era as vezes. Meu coração sempre venceu a razão e sofrer por amor foi sempre inevitável para mim. Mas não sei que diabos é isso, têm dias que eu acordo achando que não te amo mais, mas têm outros que eu acho que você é o único homem capaz de me fazer feliz. Têm dias que te quero distante, têm dias que só um abraço seu seria capaz de acalmar meus anseios. Vivo então essa eterna confusão de sentimentos dentro de mim. Uma hora quero tuas cartas e declarações, outra hora não quero ouvir tua voz e nem atender tuas ligações. Por isso quando me perguntam se eu ainda te amo eu me mascaro com a ilusão e minha razão obriga sair da minha boca mil vezes não, enquanto meu coração explode por dentro querendo dizer mil vezes sim. Eu não percebi mas já está escurecendo e enquanto as estrelas caem vou deixar cair junto com elas a minha máscara, e, pelo ao menos por essa noite gritar pro céus que eu te amo mais que tudo. Mas quando o sol nascer e os passarinhos cantarem eu vou pedir minha máscara de volta, porque ela é necessária quando eu acho que já não tenho mais forças pra lutar por você. Agora me deixa aqui, em paz. Deixa eu continuar nessa guerra de sentimentos, nessa vida de ilusão. Deixa eu achar que te esqueci e amanhã te amar mais que tudo, deixa eu mentir para mim mesma ou para quem quer que seja que você não é mais parte de mim quando na verdade você ainda alimenta minha própria existência.

Elen Abreu do blog Alivio imediato.
Eu sei que vou te amar. Por toda a minha vida eu vou te amar, a cada despedida eu vou te amar, desesperadamente eu sei que vou te amar. E cada verso meu será prá te dizer que eu sei que vou te amar por toda a minha vida. Eu sei que vou chorar a cada ausência tua eu vou chorar, mas cada volta tua há de apagar o que essa tua ausência me causou. Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver, à espera de viver ao lado teu por toda a minha vida.  Se você soubesse o bem que eu te quero o mundo seria de um jeito, de você eu gosto, com você eu fico toda a minha vida.

Caetano Veloso - Eu sei que vou te amar

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

I know someday you'll have a beautiful life I know you'll be a star in somebody else's sky, but why, why, why can't it be mine?
Eu sei que você terá uma linda vida. Eu sei que você será uma estrela no céu de outro alguém, mas porque, porque porque não pode ser no meu?
'Durante muito tempo, eu fiquei preocupado com que os outros achavam a meu respeito. Mas hoje, o que os outros acham de mim muito pouco me importa, porque a minha salvação não depende do que os outros acham de mim, mas do que Deus sabe ao meu respeito.'

   
(Padre Fábio de M.)