domingo, 28 de novembro de 2010

E eu passei quase um ano quietinha, te esperando, rezando pra Santo Antônio te ajudar a ver que amor maior no mundo não poderia existir . Eu segui amando e redesenhando cada dobrinha da sua pele, cada cheiro escondido dos seus cantinhos, cada cílio torto, cada risada alta, cada deslumbre puro com a vida, cada brilho nos olhos quando o mar estivesse bonito demais . Cada preguiça, cada abandono, cada estupidez, cada limitação, cada bobeira . Amava seus erros assim como amava os acertos, porque o que eu amava, enfim, era você .


E eu me perguntava, quase já sem agüentar mais, sem entender tamanha entrega burra, quando isso finalmente teria um fim . Quando minha coluna ia voltar a ser ereta, minha cabeça erguida e meus passos firmes ? Quando eu iria superar você ? 
Tati Bernardi

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

'Pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber por que, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar'

Caio Fernando Abreu

domingo, 14 de novembro de 2010

Você nem ligou para dizer que me queria e que seu coração batia diferente de todos os dias. Nem ligou para saber se eu estava viva ou morta, se minha vida estava reta ou torta. Nem ligou para me alertar que eu poderia cansar de esperar porque você não ia voltar. Nem ligou para dizer que eu deveria soltar o celular porque sua chamada não ia tocar. Nem ligou para dizer que não seria necessário eu por mais uma prato na mesa porque você não ia chegar para jantar. Nem ligou para me avisar que eu deveria dormir do lado da lareira porque você não ia mais me esquentar. Nem ligou para dizer que eu era a mulher da sua vida. Já que você não ligou estou aqui, mais viva do que nunca,na minha vida torta sem você. Dia e noite esperando sua declaração. Eu estou te aguardando aqui na porta com o celular na mão. E seu lugar ta lá, reservado na mesa da minha cozinha. Ainda não tive coragem de ir na lareira me esquentar na esperança de você voltar. E estou aqui, congelando de tanto frio e me perguntando: -E agora? Eu sou a vida quem? Você nem ligou para dizer adeus (...)
Por Ellen Abreu.

Contrato - Tati Bernardi

Combinamos que não era amor. Escapou ali um abraço no meio do escuro. Mas aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo. Foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós.
A gente foi ao cinema, coisa que namorados fazem. Mas amigos fazem também, não? Somos amigos. Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra. Mas a gente correu pra fazer piadinha sexual disso, como sempre. E a orelha ouviu uma sacanagem qualquer, e a mão se encaixou ali no meio das minhas pernas.
Você me chamou de amor ontem, enquanto a gente transava. Eu quis chorar. Mas também quis rir muito da sua cara. Acabei só esquecendo isso. Talvez o “mô” que você murmurou, seja porque no dia anterior, naquela mesma cama, você tenha comido alguma “Mônica”. Prefiro pensar assim. Se eu for muito, mas muito escrota, talvez eu me proteja de me assustar muito. Caso você seja escroto. Eu sendo de pedra não quebro com a sua pedra. Sei lá.
Aí teve aquela cena também. De quando eu fui te dar tchau só com a manta branca e o cabelo todo bagunçado. E você olhou do elevador e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer.
Mas a gente combinou que não era amor. Você abriu minha água com gás predileta e meu sabonete de manteiga de cacau. E fuçou todas as minhas gavetas enquanto eu tomava banho. E cheirou meu travesseiro pra saber se ainda tinha seu cheiro. Ou pra tentar lembrar meu cheiro e ver se ele ainda te deixa sem vontade de ir embora. Mas ainda assim, não somos íntimos. Nada disso. Só estamos aqui, reunidos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer e vontade de fazer sexo.
Só isso. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu chapéu é muito legal. Não deixa eu assim, deslizando pelas paredes do chuveiro de tanto rir porque seu cabelo fica ridículo molhado. Não faz a piada do vampiro só porque você achou que eu estava em dias estranhos. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.
Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado.
Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo.
Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.
E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor.
E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.
Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.

sábado, 13 de novembro de 2010

  Ana Carolina - Alguém me disse.

Alguém me disse que tu andas novamente, de novo amor, nova paixão, todo contente. Conheço bem tuas promessas, outras ouvi iguais a essas, esse teu jeito de amar conheço bem. Pouco me importa que tu beijes tantas vezes e que tu mudes de paixão todos os meses. Se vais beijar como eu bem sei, fazer sonhar como sonhei, mas sem ter nunca amor igual ao que eu te dei
Dizem que a separação nunca é um núcleo, uma urgência. Dizem que ela começa em seu avesso. E que é justamente no momento mais suave, o primeiro encontro, o primeiro olhar, que a separação começa a existir. Eu prefiro acreditar que a separação nunca termina, e que o último dia, a última noite, é um instante que se repete, a cada espera, a cada volta, cada vez que sinto a tua falta, cada vez que pronuncio teu nome. Eu acredito que, ao te chamar, uma estratégia, um encanto, eu seja capaz de fazer com que você se vire e olhe, e, sem perceber, estenda entre nós um atalho, uma ponte.

Carola Saavedra, in “Flores Azuis”

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sem Ana, Blue - Caio Fernando Abreu.

Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos dourados e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os dourados e o vermelho do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, convidando para jantar, para cheirar pó, para ver Nastassia Kinski nua, pergunrando que tempo fazia ou qualquer coisa assim, então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar.
De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.'
'Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado !

 











  


 Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

 ---
Esses olhos que já derramaram lágrimas, essa boca que já provou teu beijo, esse corpo que já foi aquecido pelo teu, esse coração que já quase extrapolou de felicidade, essas mãos que muitas vezes acariciaram teu rosto e seguraram as tuas, esses pés que me levaram até você, essa mente que guardava apenas o teu nome e os teus atos, essa ideia de que viveríamos felizes para sempre e esse ser completo não existe mais. Extinguiu-se. Desapareceu. Morreu. Deixaste em mim a ferida aberta, o coração partido e a solidão. Levou de mim os sonhos, os planos, o amor. Partiu sem mais nem menos, esquecendo de uma vida inteira, deixando para trás um amor verdadeiro. Já é tempo de voltar, mas você não volta. Se apaixona por várias, deposita sentimentos em outras mulheres. Esquece mais e mais de mim. Enquanto guardo o meu amor, você sai distribuindo o seu por ai. Você ainda não abriu os olhos, não acordou. Não percebeu que sua alegria dura pouco e que eu te faria feliz. Não adianta ter tantas outras sem receber delas o amor que só eu posso te dar. Então vai, vai. Vai me deixando só, jogada as traças, chorando pelos cantos, sofrendo com noites intermináveis. Me deixa sozinha com a solidão. Me leva o ar, o chão, as lágrimas. Deixa eu sentir essa dor ainda pois dizem que quando o sofrimento é grande, a felicidade vem maior ainda. Deixa eu sofrer e depois volta pra mim e me faz a mulher mais feliz do mundo, porque enquanto você segue sua vida eu fico aqui te esperando para eu seguir a minha.
por Ana Eliza
Confesso! As vezes tenho vontade de sair por ai destruindo corações, pisando em sentimentos alheios ou sei lá, alguma coisa que me faça realmente merecer esse meu sofrimento no amor.
(Caio Fernando Abreu)
Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Porque era bom e tal ,


Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo ? Então pronto . Chega . Adulta, adulta . Qual o problema se ele estiver agora, justamente agora, lambendo a virilhazinha de alguma desgraçada ? Qual o problema ? Ok, eu posso morrer . Eu definitivamente posso morrer!

Tati Bernardi

terça-feira, 2 de novembro de 2010


Querido, escrevo-te para te dizer que nem penso mais em você. 
Não vou dizer nessa carta que eu amo você e que te quero mais que tudo.
Estou escrevendo somente para te mostrar que superei, superei.
Para dizer que acabou toda a dor inacabável que você deixou em meu peito.
Não precisa mais voltar para mim quando perceber que eu sou a única que posso te amar verdadeiramente e fielmente. A única que vai te esperar até o fim.
Joguei fora todas as lembranças de amor, todas. Nem consigo me lembrar da primeira vez que nos beijamos ou quando você disse que estava completamente apaixonado e que precisava de outro coração pois o seu já era meu.
Não tenho mais esperança em nós, acabou tudo. 
Mudei muito meu querido, muito. Não minto, não choro, não sofro, não me iludo, não me contradigo.
Mas, se um dia você perceber que eu sou a única que posso te amar verdadeiramente e fielmente, volte. Saiba que eu ainda penso em você e que te quero mais que tudo. Aquela dor inacabável espera você para acabar. Ainda guardo todas as lembranças de amor, guardo junto com as esperança que tenho de sermos um só novamente.

com carinho, Ana Eliza.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


“Ninguém se separa, Rímini. As pessoas se abandonam. Essa é a verdade, a verdade verdadeira. O amor pode até ser recíproco, mas o fim do amor não, nunca. Os siameses se separam. Mas não se separam, tampouco: porque sozinhos não conseguem. Um terceiro precisa separá-los: um cirurgião, que corta pelo meio o órgão ou o mesmo ou a membrana que os une com um bisturi e derrama sangue e na maioria das vezes, diga-se de passagem, mata, mata um deles, pelo menos, e condena o outro, o sobrevivente, a uma espécie de luto eterno, porque a parte do corpo pela qual estava unido ao outro fica sensibilizada e dói, dói sempre, e se encarrega de lembrá-lo, sempre, de que não está nem nunca vai estar completo, que isso que lhe tiraram nunca mais poderá ter de novo.”

(Alan Pauls - O Passado)
— É possível um rio secar completamente?
— Claro que é.
— Mas será que ele não enche depois? Nunca mais?
— Alguns sim, outros não.
— Mas nunca mais?
— Sei lá, acho que não.
— Você tem certeza?
— Certeza eu não tenho. Só estou dizendo que acho. Afinal não sou nenhuma especialista em matéria de rios, secos ou não.
— Sabe?
— O quê?
— Eu tinha esperança que o rio voltasse a encher um dia.

                   Caio Fernando Abreu
Sinto muito, vou te deixar. Já não tem mais razão em insistir em algo que nunca será. Nunca será eu e você. Há um abismo entre nós. Há um vazio entre nós. Não há nada. Eu tentei, te juro, eu até tentei. Você não aceita minhas 'migalhas' de amor e não sabe que o que você chama tão friamente de 'migalhas' é tudo que meu coração pode dar. Ele foi despedaçado e o pouco de amor que sobrou eu dou pra você. Mas, você não percebe isso. Partiram meu coração em mil pedaçinhos e você nem se esforça pra juntar. Você não quer ajeitar meu coração, você só quer satisfazer o seu. Você não se importa com minha dor de ex amor, não quer cura-la. Quer que eu te ame a qualquer custo mas não sabe o quando isso custa para mim. Me ver sangrando mais finge não saber, você se preocupa demais com você.
Por Ana Eliza